Nossa viagem havia sido planejada para a patagônia, no extremo sul do continente, mas propositadamente, a primeira semana seria para irmos a Mendoza e cruzarmos os Andes de carro. E, dentro das varias coisas que queríamos fazer nestes dias, havia uma em especial: ver o Aconcágua…

Vista do Aconcágua próximo a fronteira Argentina – Chile

Era um sonho tão antigo quanto podia me lembrar, e na verdade, realmente não me lembro de quando me surgiu esta idéia. Um pouco antes de iniciar a faculdade, já pensava em um dia chegar no topo das Américas. E agora, quase 15 anos depois, estava em um avião que me levaria para a região que já havia lido tanto, que já havia visto tantas fotos e imagens. E que já conhecia tão bem…

Após uma hora de vôo, avistávamos apenas uma imensa e árida planície, praticamente sem nenhum traço de vegetação. Os Andes, com uma altura media de 5-6 mil metros na região, bloqueiam toda a umidade que vem do oceano pacifico, e torna esta região Argentina quase inabitada. Mas, de olho colado na janela, de repente percebi uma longa formação branca no horizonte, pouco abaixo da altura do vôo…Estavam lá, novamente, depois de tanto tempo, e com muito mais neve…As montanhas que tanto sonhava nos últimos anos.

Pouso tranqüilo, descemos do avião e a ansiedade de conhecer a cidade aumentando. Fomos de táxi até nosso hotel, cruzando uma periferia pobre da cidade, e acabamos por descobrir que ele ficava cerca de 4 Km do centro. Nem mexemos mais uma vez nas malas, porque no outro dia já iríamos sair de manhã cedo com destino as montanhas. Saímos do hotel, compramos água, biscoitos e vinhos no Carrefour ao lado e fomos andando pela auto pista que chega a cidade proveniente da Capital. A nossa frente sempre as montanhas no horizonte. Sol quente, dia lindo. Finalmente, chegamos no coração da cidade, a avenida San Martin, com seus cafés e inúmeras lojas de artigos esportivos. Nossa primeira parada foi em um dos Cafés em uma rua de pedestres cheia de árvores. Brindamos Mendoza com uma deliciosa Quilmes bem gelada e almoçamos um enorme bife de chorizo argentino e um lomo com papas fritas…

Mendoza – Centro

Depois do almoço, continuamos nossa caminhada no centrinho, em busca de uma hospedagem mais central para quando voltássemos das montanhas e encontramos um Hostel bem legal, novo e com nome sugestivo: Confluência. Nesse horário, após o almoço fomos surpreendidos com a siesta hermana, que ia do meio dia ate às 16 horas…Mas como somos teimosos e estávamos muito longe do hotel, decidimos arriscar e ir caminhando ainda mais até nossa obrigação do dia: a loja de equipamentos de montanha que ficava próximo à praça San Martin. Caminhamos sob um sol forte das 3 da tarde, todas as lojas fechadas na rua, nenhum ser vivente, atravessamos a linha férrea e chegamos a frente da loja Orviz. Felizmente existia uma campainha e atendimento a toda hora. Entramos e puxei logo a enorme lista de equipamentos, não sem antes ficar perdido com a infinidade de materiais pendurados no teto e nas paredes, sonhos de consumo.

loja de equipamentos em Mendoza

Fotos tiradas com piolets e crampons, começamos a realidade de gastar em um pouco de material para uma futura expedição ao Aconcágua, e também para os dias de frio que viriam na etapa da Patagônia. Gastamos pouco, bem menos do que havia calculado anteriormente, porque optei por deixar para alugar depois o que seria apenas útil em uma escalada de alta montanha. Compramos meias grossas, gorros, calças e camisas de dry fit. Pegamos um colorido táxi em frente e voltamos exaustos ao hotel.

Após um banho e uma pequena siesta, fomos a um shopping próximo a rodovia para dar uma olhadinha, além de jantar. Decidimos como sempre levar uma quentinha para o quarto e saborear um bom vinho argentino no conforto de uma cama. Deitamos e tentei dormir. Mas como se foi tornando normal nos outros dias que viriam, a ansiedade me tirava o sono e sempre ia dormir tarde. Nesta noite em especial…Algumas horas depois estaríamos saindo da cidade em direção ao Chile, e a única forma de chegar a Santiago de carro seria cruzar os Andes, pelo passo do Cristo Redentor a 3.200 metros de altitude…A única forma seria passar ao lado do teto das Américas…